Transformação Social Através do Futebol de Várzea

Por Diego Galofero

Desde que me formei em Comunicação Social em 2011, minha carreira tomou rumos diferentes do que eu esperava. Na graduação, me apaixonei pela produção acadêmica — resenhas, artigos, fichamentos. Mas a vida seguiu outros caminhos, e o sonho de seguir no mundo acadêmico ficou de lado.

A faísca pela pesquisa nunca se apagou. Em 2019, durante um curso sobre a Operação Condor, percebi o quanto queria explorar temas complexos e relevantes. Porém, ainda não tinha uma ideia clara de pesquisa.

No ano passado, conheci Aira Bonfim e seu trabalho sobre o futebol de várzea feminino em São Paulo. Isso reacendeu meu desejo de pesquisar, focando na intersecção entre futebol de várzea e questões raciais, especialmente das mulheres negras.

Nossa sociedade impõe inúmeras barreiras para as mulheres negras. Trazer essa realidade à tona é essencial, principalmente em um espaço cultural significativo como o futebol de várzea. Quero usar a academia como ferramenta de transformação social, ampliando as discussões e levando o debate a comunidades frequentemente excluídas.

Meu sonho de pesquisa vai além da produção acadêmica. Quero me tornar um intelectual periférico, escrever, dar aulas e, acima de tudo, ser um agente de mudança. Quero criar pontes entre o conhecimento acadêmico e as comunidades periféricas, contribuindo para uma academia mais inclusiva e relevante.

É de essencial importância que cada vez mais pessoas negras estejam nas academias, mas nunca devemos esquecer de onde viemos, de nossas raízes e nossas histórias. É ótimo entender teorias complexas, mas precisamos lutar junto ao povo para trazer mais pessoas como a gente, conosco nesse processo. Em um país onde mais da metade da população se declara negra, é impressionante que programas como o do Instituto Sumaúma sejam tão necessários. Acredito que as pessoas do instituto ficariam muito felizes se a equidade de oportunidades fosse uma realidade e não houvesse a necessidade de programas assim para equilibrar o jogo social.

As periferias, que nas eleições recentes demonstraram um apoio crescente a ideais meritocráticos e individualistas, precisam de projetos que valorizem o compartilhamento e a organização coletiva. O futebol de várzea é uma porta para trabalhar diretamente com as realidades das pessoas. Mesmo percebendo a politicagem e as dificuldades de entrar em um programa de mestrado, não vou desistir.

Vou me tornar Mestre Diego e depois Doutor, não pelo título, mas pela capacidade de abrir portas e criar oportunidades. Minha missão é desenvolver-me nessa área e trabalhar junto aos meus. Esse projeto de vida busca não apenas meu desenvolvimento pessoal, mas também um impacto positivo na comunidade, promovendo inclusão e relevância social através da educação e do estudo.

“Esses boy conhece Marx, nóiz conhece a fome então cerre os punhos, sorria e jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazia” Levanta e Anda, Emicida


Este artigo é uma contribuição das pessoas tutorandas que participaram da Turma V (2024) do Curso Preparatório para Seleções de Pós-Graduação. O objetivo é explorar o potencial documental da plataforma de blog para partilhar curadoria de materiais pertinentes para a comunidade científica e para a sociedade de modo geral.

Posted in Divulgação Científica.

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