Por Alicia Lobato
No dia 05 de setembro de 2024 aconteceu a aula “O movimento negro na luta pelo direito a educação”, que trouxe como base para a discussão dois textos, o primeiro foi o artigo “Política de ação afirmativa na pós-graduação: o caso das universidades públicas”, escrito por Anna Carolina Venturini e João Feres Júnior, o segundo foi o texto “Ausência de professores negros é ponto crítico em universidades”, publicado na página de notícias da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF.
Taís Oliveira, mediadora da aula, iniciou a discussão relatando como funciona a política de afirmações nas universidades e sobre o processo seletivo nos programas, trazendo o ponto que as cotas surgiram por conta dos movimentos estudantis dentro das universidades, enfatizando como é importante além de lidar com a vida acadêmica, também estar inserido dentro dos debates políticos nesses espaços.
Neste momento, Taís também compartilha um episódio do videocast que integrou a “Série ‘10 anos depois’”, produzido pelo Instituto Sumaúma, que contou com participação do Juarez Xavier, professor, ativista antirracista, Jornalista (PUC/SP), Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação (USP) e docente na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Vice-Diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (Faac/Unesp/Bauru) e do Fórum das Vice-Direções da Universidade Estadual Paulista.
O episódio abordou a heteroidentificação e a lei de ações afirmativas, ou lei de cotas, “que estabelece a reserva de vagas em instituições de ensino federais para grupos historicamente excluídos”. O episódio aborda também perspectivas de futuro no campo da educação. O videocast foi contemplado na chamada pública “O papel da ciência no Brasil de amanhã” (2022), onde recebeu apoio do Instituto Serrapilheira, uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil.
Na conversa, Juarez responde a pergunta “Por que o Brasil demorou tanto para adotar políticas de acesso à população negra à universidade?”, na qual enfatiza que o “projeto era aniquilar o negro” e analisa: “O Brasil retardou o máximo essa política porque a questão racial é estrutural no Brasil, ela tem um papel, o Brasil retardou porque o primeiro projeto de eliminação não deu certo, tem que considerar que o grande fenômeno do século XX é a classe média. A classe média brasileira é construída no âmago da sociedade racista e ela reproduz esse processo”.
Após esse momento de escuta, a turma compartilhou experiências e vivências sobre o tema. Aline Rocha contou que participou da primeira turma que entrou por meio de cotas raciais da Universidade Estadual Paulista – Unesp, que na época não contava com apoio de programas de permanência. Meme também compartilhou sobre a realidade das universidades em relação ao letramento racial para populações negras e o debate sobre apoios e programas de permanência, e complementou: “Porque eu só fui descobrir de verdade a minha não branquitude na universidade, quando comecei a escutar discursos do tema. Senti isso na permanência na universidade, o desgaste do trabalho com o sonho do capital educacional a famosa ideia de ‘o estudo vai te fazer mudar de vida’. A duros custos”.
Tais enfatiza uma fala do professor Juarez que por conta desse cenário, muitos professores negros e indígenas precisam estar sempre ocupando outros espaços, sendo mais produtivos, participando de várias frentes para conseguir corresponder as demandas e contribuir também para o cenário racial dentro das universidades.
Durante a leitura do artigo “Ausência de professores negros é ponto crítico em universidades”, Tais lembrou da fala do professor Juarez no videocast sobre como as cotas não refletem a realidade, já que pessoas pretas e pardas são a maioria no país mas ainda precisam de cotas. Em um dos trechos do artigo, é analisado como no final dos anos 90 ainda não se discutia a possibilidade da abertura de vagas para pesquisadores cotistas na pós-graduação. Wedencley Alves, professor e pesquisador na Faculdade de Comunicação (Facom) e entrevistado na matéria comenta no texto: “Se os doutorados representam um nível de excelência pouco acessível aos pesquisadores negros, e as universidades geralmente exigem o doutorado como qualificação mínima, isso cria um filtro social bastante perverso, além da competição que já é intensa.”
Após alguns momentos de troca entre a turma, é destacado a importância de entender essas estruturas, estar em espaços políticos para atuar na incidência desses temas, além de buscar estratégias também para beneficiar a si e a outras pessoas.
Este artigo é uma contribuição das pessoas tutorandas que participaram da Turma V (2024) do Curso Preparatório para Seleções de Pós-Graduação. O objetivo é explorar o potencial documental da plataforma de blog para partilhar curadoria de materiais pertinentes para a comunidade científica e para a sociedade de modo geral.