Por Taís Oliveira
O Dia Nacional da Consciência Negra – no dia 20 de novembro – tem como premissa celebrar a memória do líder quilombola Zumbi dos Palmares. A data, que é uma reivindicação do movimento negro desde a década de 70, foi instituída oficialmente pela Lei 12.519 de 2011. Assim, o 20 de novembro é uma oportunidade para, além de reverenciar a vida e a luta do povo negro, discutir e refletir sobre pautas relacionados a essa população, sobretudo no que se fere à luta antirracista.
Algo que costumo pontuar quando sou convidada para falar sobre racismo e antirracismo é que a violência e a exploração de corpos negros são criações da branquitude e esse grupo social precisa se discutir, se aprender, se observar, se criticar, se reconhecer enquanto beneficiário direto da escravização e do racismo e, principalmente, se responsabilizar.
Todavia, basta um breve teste de pescoço em qualquer evento, mesa, palestra, aula ou manifestação no novembro negro, ou em qualquer outra oportunidade, para perceber a quase completa inexistência de pessoas brancas nos ambientes de debate e aprendizagem. Como um ato provocativo à inércia, a partir de pesquisadores fundamentais sobre o tema, neste Dia Nacional da Consciência Negra, nós queremos falar sobre branquitude e assim colaborar com a braquitude nesse exercício de auto-crítica.

Maria Aparecida da Silva Bento e o Pacto Narcísico da Branquitude
Cida Bento é psicóloga, Mestre em Psicologia Social (PUC-SP) e Doutora em Psicologia Escolar do Desenvolvimento Humano (USP). Atualmente é Diretora Executiva do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e autora de uma extensa produção de reflexões a respeito da branquitude.
Dentre essa produção, estão os livros “Psicologia Social do Racismo – Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil”, co-organizado com Iray Carone e o recentemente lançado “O pacto da Branquitude”. Para a autora, a branquitude mantém, mesmo que nem sempre de forma explícita, um pacto de autoproteção constante entre seus semelhantes, o que ela chama de “pacto narcísico da branquitude”.
Lourenço Cardoso e a historicidade brasileira sobre o sujeito branco
Lourenço Cardoso é historiador, Mestre em Sociologia (Faculdade de Economia Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) e Doutor Sociologia (UNESP). Sua dissertação tratou de O Branco invisível: um estudo sobre a emergência da branquitude nas pesquisas sobre as relações raciais no Brasil e sua tese O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil, ambos os trabalhos estão disponíveis como livros.
Lourenço também é co-organizador do livro “Branquitude: Estudos sobre a identidade branca no Brasil” que conta com artigos de diversos pesquisadores e pesquisadoras, como Deivison Faustino, Liv Sovik e Bas’llele Malomalo.
Lia Vainer Schucman e o encardido, o branco e o branquíssimo
Lia Vainer também é psicóloga, Mestre em Psicologia (UFSC) e Doutora em Psicologia Social (USP). Além disso, é professora no Departamento e do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, é membra do Núcleo de Praticas Sociais, Estética e Política e compõem a diretoria da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).
Lia é autora da tese, que posteriormente tornou-se livro, “Entre o ‘encardido’, o ‘branco’ e o ‘branquíssimo’: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana” que discute como a branquitude – enquanto construção sócio-histórica – foi produzida a partir da ideia de superioridade racial resultando em sociedades racistas. As análises de marcadores demonstram que dentro da própria branquitude há um deslocamento identitário em decorrências das variáveis de origem, região, gênero, fenótipo e classe. A autora conclui que a categoria branco é uma questão internamente controversa e que alguns tipos de branquitude são marcadores de hierarquias da própria categoria.
Outro trabalho em destaque da autora é o artigo Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana, nesta pesquisa Lia Vainer infere que o racismo e a ideia de raça, construída no século XIX, ainda permanecem nos modos de subjetivação de indivíduos brancos que acreditam que “ser branco” determina características morais, intelectuais e estéticas.
Abaixo algumas pesquisas recentes que exploram a noção de branquitude:
- ‘Mais branca que eu?’: uma análise interseccional da branquitude nos feminismos
- Só para não passar em branco: uma revisão narativa sobre a branquitude
- Por uma limguística aplicada antirracista, descolonial e militante: Racismo e branquitude e seus efeitos sociais
- Pactos narcísicos da branquitude e a educação cearense: traços da desigualdade racial
- A branquitude acadêmica, a invisibilização da produção científica negra, a autoproteção branca, o pesquisador branco e o objetivo-fim
- Discurso jornalístico e as relações raciais: um olhar para a branquitude
- Visão Computacional e Racismo Akgorítmico: Branquitude e opacidade no aprendizado de máquina
- Vidas Negras Importam: Análise de Redes Sociais do Ativismo em Nuvem Sobre os Episódios #80Tiros e de George Floyd
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