Já ouviu falar de cursos preparatórios para pós-graduação?
O artigo “Comunidade de Aprendizado na pós-graduação: cursos preparatórios em uma dialogia que nasce da solidariedade”, escrito por Renata Nascimento da Silva – doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Zilda Martins Barbosa – Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária da UFRJ e fundadora e coordenadora do Grupo de Estudos Muniz Sodré sobre Relações Raciais, além de explicar, traz boas reflexões que vão além dos benefícios oferecidos pela educação.
As autoras destacam as dificuldades para a implantação de ações afirmativas para educação, principalmente voltada aos negros, que só é possível com a pressão de movimentos sociais.
Para embasar a argumentação, as autoras trazem alguns escritores renomados, com destaque para Paulo Freire e Bell Hooks, e reforçam a importância da educação como conscientização e tomada de consciência. Assim como Freire, as autoras acreditam que pela educação é possível conquistar um protagonismo social, uma vez que o ser se torna crítico.
As ações afirmativas possibilitam que haja uma transformação na estrutural social. É no espaço escolar que o ser terá contato com outros indivíduos, realizará trocas, terá contato com diversas vivências, culturas e hábitos. E é também dentro do espaço escolar que o diálogo será um dispositivo que potencializará os intelectuais negros para uma educação descolonizadora. E não é um processo fácil, uma vez que o racismo, que é estrutural, está presente nos ambientes acadêmicos.
O papel social e afetivo dos cursos preparatórios (CPP)
Dentro desse contexto, segundo o artigo, os cursos preparatórios para pós-graduação (CPP) têm o poder de impulsionar ainda mais a população negra dentro dos espaços acadêmicos. Esses cursos possibilitam a inclusão dos negros de forma quantitativa e qualitativa nas universidades. Além disso, são espaços que não apenas ensinam, mas constroem ligações solidárias.
Os CPP são voltados para grupos minoritários, em sua maioria, negros e de universidades particulares. As autoras reforçam o conceito de “comunidade de aprendizado” de Bell Hooks, como um espaço onde todos possam aprender, compartilhando ideias e experiências e não excluindo o afeto desse processo.
Dessa maneira, compreende-se que os CPPs são espaço solidários, provedores de uma educação de coparticipação e com um papel fundamental para a inserção de negros nos espaços acadêmicos. Acaba-se com a ideia de iniciar um curso superior apenas com o esforço e dedicação, já que desde o início, Renata e Zilda reforçam a desigualdade e falta de representatividade negra dentro das universidades. Os cursos preparatórios para pós-graduação como ação afirmativa para reparar a desigualdade rompe o modelo neoliberal individualista.
Por fim, as autoras confirmam a importância de afeto e solidariedade entre os instrutores dos cursos preparatórios de pós-graduação, que geralmente são administrados por alunos cotistas, com os estudantes. Esse afeto é potencializador para o aprendizado e permanência dos alunos nos espaços acadêmicos. A troca possibilita a identificação, o diálogo e a representatividade. É uma forma de manutenção de um processo que inferioriza a autoestima intelectual de estudantes negros.
O espaço acadêmico é visto como um medidor de pessoas competentes e inteligentes. A falta de representatividades nesses espaços faz com que os estudantes questionem se deveriam estar ali e, ainda que de forma inconsciente, causam em si insegurança durante suas jornadas acadêmicas. Para você, que quer saber mais sobre o artigo, acesse aqui.
Conheça as autoras do artigo:
Renata Nascimento da Silva é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGCOM/UERJ). Mestre em Comunicação pelo PPGMC/UFF. Especialista em Mídias Digitais pela Universidade Estácio de Sá (2012-2013); onde também concluiu a graduação em Comunicação Social/Jornalismo. Integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Arte e Redes Sociotécnicas do Prof° Dr° Fernando Gonçalves e do Grupo de Estudos em Relações Raciais do Brasil no Laboratórios de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC/UFRJ). Foi bolsista Proatec do Laboratório de Mídias Digitais (LMD/CIBERCOG/UERJ). Entre os temas de interesse de pesquisa estão cultura digital, questões raciais, relações de poder, narrativa e educação.
Zilda Martins Barbosa é Doutora e Mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Realizou doutorado sanduíche (stage doctoral) na École des Hautes Études en Sciences Sociale – EHESS. Possui especialização em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes e em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto Metodista Bennett. É graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso. Dialoga com temas como comunicação, mídia, comunidade, hegemonia e contra-hegemonia, focando em relações raciais, ações afirmativas, cotas raciais e Negritude. É pesquisadora do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária da ECO/UFRJ (LECC), onde coordenou o Grupo de estudos sobre Relações Raciais no Brasil.