No livro A Arte de Pesquisar: Como Fazer Pesquisa Qualitativa em Ciências Sociais, Mirian Goldenberg, antropóloga e escritora brasileira, professora aposentada, nascida 1957 em Santos/SP, aborda de forma didática e reflexiva os principais aspectos da pesquisa qualitativa. A obra se estrutura em capítulos que dialogam diretamente com os desafios enfrentados por pesquisadores, especialmente em Ciências Sociais. Goldenberg busca desmistificar a metodologia científica, ressaltando que ela vai além de regras rígidas, exigindo criatividade, curiosidade e paixão pelo processo investigativo.
No primeiro capítulo intitulado “(Re)Aprendendo a Olhar”, a autora propõe uma desconstrução das ideias preconcebidas sobre o que é fazer ciência e pesquisa. Mirian inicia sua argumentação destacando que a ciência não se limita à descrição de um mundo já existente, mas à construção de um novo universo, o que exige um olhar treinado, criativo e questionador. Para Goldenberg, a pesquisa científica é um processo dinâmico, repleto de incertezas e que demanda do pesquisador habilidades que vão além do domínio técnico – é necessário cultivar curiosidade, humildade e resiliência.
Um ponto central do capítulo é a crítica ao modelo tradicional de pesquisa, muitas vezes baseado em procedimentos rígidos e hierárquicos. Segundo Mirian, não há um único caminho para realizar uma pesquisa; cada projeto científico deve ser moldado de acordo com a natureza do problema investigado. Assim, a metodologia não é um fim em si mesma, mas um instrumento que deve ser adaptado às necessidades do objeto de estudo.
Por fim, Goldenberg apresenta a proposta do livro como um desafio: incentivar o leitor a desenvolver uma postura científica criativa, organizada e saborosa.
Já no segundo capítulo “Pesquisa Qualitativa em Ciências Sociais”, a autora Mirian Goldenberg aprofunda a discussão sobre a pesquisa qualitativa, situando-a historicamente, filosoficamente e metodologicamente no contexto das Ciências Sociais. A autora busca mostrar que a pesquisa qualitativa é uma abordagem única e valiosa, distinta da pesquisa quantitativa, ao priorizar a compreensão e a interpretação dos fenômenos sociais, em vez de se basear apenas em dados numéricos e generalizações estatísticas.
Ela contextualiza o surgimento da pesquisa qualitativa, contrastando-a com o modelo positivista tradicional, que dominou as ciências no século XIX. Ela relembra que o positivismo, fundado por Augusto Comte, defendia a ideia de que todas as ciências – naturais ou sociais – deveriam seguir um único modelo de investigação baseado na quantificação e na objetividade. Para Comte e outros positivistas, os fenômenos sociais deveriam ser tratados da mesma forma que os fenômenos naturais, buscando regularidades e leis gerais.
No capítulo também podemos ver a autora apresentar uma crítica à suposta objetividade da pesquisa quantitativa. Goldenberg argumenta que a subjetividade do pesquisador está presente em todas as etapas do processo científico, desde a escolha do tema até a análise dos dados. Na pesquisa qualitativa, no entanto, a subjetividade não é vista como uma limitação, mas como parte integral da compreensão dos fenômenos sociais. Mirian explica que, ao invés de buscar a representatividade numérica, como faz a pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa prioriza o aprofundamento na compreensão de grupos, instituições ou trajetórias específicas.
Mirian Goldenberg finaliza o capítulo destacando que a pesquisa qualitativa, por sua própria natureza, exige flexibilidade, criatividade e abertura ao inesperado. Não se trata de seguir um manual rígido, mas de adaptar os métodos ao problema de pesquisa e ao contexto investigado. Goldenberg reforça que as ciências sociais não devem buscar uma “verdade” absoluta ou leis universais, mas sim oferecer interpretações e compreensões profundas que possam iluminar as complexidades da experiência humana.
Neste capítulo, A Escola de Chicago e a Pesquisa Qualitativa, o terceiro, Mirian Goldenberg explora a influência da Escola no desenvolvimento da pesquisa qualitativa, destacando sua relevância histórica e metodológica. A Universidade de Chicago, fundada em 1892, tornou-se um centro pioneiro para a sociologia e antropologia nos Estados Unidos. Goldenberg detalha como os pesquisadores da escola, influenciados pelo interacionismo simbólico de George Herbert Mead e pelo pragmatismo de John Dewey, contribuíram para a consolidação da pesquisa qualitativa em grandes centros urbanos.
A autora enfatiza a interdisciplinaridade dos estudos conduzidos pela Escola de Chicago, que abordaram temas como imigração, conflitos raciais, delinquência, pobreza e criminalidade. Um exemplo notável é The Polish Peasant in Europe and America (1918-1920), que combinou análise de documentos pessoais e entrevistas para compreender as dificuldades enfrentadas por imigrantes poloneses. Além disso, Mirian destaca o trabalho de campo como uma prática central para os pesquisadores de Chicago, que investigavam as realidades urbanas diretamente nas ruas, com métodos etnográficos e histórias de vida.
Goldenberg reforça que a Escola de Chicago não apenas trouxe novos temas e métodos para as ciências sociais, mas também abriu espaço para debates entre abordagens qualitativas e quantitativas, defendendo a complementaridade entre elas.
Estudos de Caso é o capitulo quatro, onde, Goldenberg, apresenta o método de estudo de caso como uma ferramenta central da pesquisa qualitativa, explicando sua origem nas áreas médica e psicológica e sua adaptação às ciências sociais. Este método permite o mergulho profundo em um fenômeno específico, seja ele um indivíduo, uma instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-lo em seus próprios termos.
A autora destaca a flexibilidade do estudo de caso, que pode envolver diversas técnicas de coleta de dados, como entrevistas em profundidade e observação participante. No entanto, Goldenberg também aponta os desafios desse método, como a dificuldade de delimitar o objeto de estudo e lidar com descobertas inesperadas.
E finaliza destacando a importância do estudo de caso para revelar as particularidades e complexidades dos fenômenos sociais, complementando métodos mais amplos, como os quantitativos.
O Capítulo 5 é intitulado “O Método Biográfico em Ciências Sociais” e nele, Goldenberg explora o uso de histórias de vida como método de pesquisa qualitativa, discutindo como biografias podem revelar as interações entre indivíduos e seus contextos sociais e históricos. Inspirada por autores como Franco Ferrarotti e Norbert Elias, a autora argumenta que cada biografia é uma síntese única entre a singularidade individual e os condicionamentos sociais.
Ela destaca a utilidade desse método para compreender trajetórias e transformações sociais, mas também alerta sobre as limitações, como a dependência de relatos subjetivos e a seletividade dos dados apresentados pelos entrevistados. Para mitigar essas limitações, Goldenberg recomenda o cruzamento de diferentes fontes e métodos.
No sexto capítulo, Goldenberg reflete sobre as críticas frequentemente dirigidas à pesquisa qualitativa, como a falta de objetividade e representatividade. A autora explica que, ao contrário do positivismo, que busca neutralidade, a pesquisa qualitativa reconhece e lida com a subjetividade como parte do processo. Ela sugere estratégias para minimizar vieses, como a explicitação dos passos metodológicos e a autocrítica do pesquisador.
A autora também discute como o controle de bias na pesquisa qualitativa depende de práticas como a observação prolongada, o confronto de dados e a transparência na apresentação dos resultados.
Pesquisa Qualitativa: Problemas Teórico-Metodológicos é o sétimo capitulo do livro, onde Goldenberg aborda os desafios teórico-metodológicos da pesquisa qualitativa, destacando como a flexibilidade e a subjetividade dessa abordagem podem ser tanto uma força quanto uma fraqueza. Ela argumenta que a ausência de regras rígidas exige sensibilidade, criatividade e experiência do pesquisador, mas também demanda rigor na análise dos dados para evitar interpretações superficiais ou enviesadas.
Chegando no oitavo capítulo, “Integração entre Análise Quantitativa e Qualitativa” a autora defende a complementaridade entre métodos quantitativos e qualitativos. Enquanto os dados quantitativos fornecem amplitude e generalizações, os qualitativos oferecem profundidade e compreensão contextual. Goldenberg sugere que a integração dessas abordagens pode enriquecer o entendimento dos fenômenos sociais.
Já no “Faça a Pergunta Certa!” título do nono capítulo, Goldenberg enfatiza que a formulação de boas perguntas de pesquisa é o ponto de partida para qualquer investigação científica. Perguntas bem elaboradas delimitam o foco do estudo e ajudam a conectar teoria e prática. A autora incentiva o leitor a investir tempo na definição de questões que sejam relevantes, viáveis e inovadoras.
Aqui no décimo capítulo, “Formulando o Problema de Pesquisa” Goldenberg orienta sobre como delimitar o problema de pesquisa de forma clara e consistente. Ela explica que o problema deve ser uma questão instigante e específica, que guiará todo o desenvolvimento do projeto científico.
“Construindo o Projeto de Pesquisa” título do décimo primeiro capítulo, Mirian Goldenberg detalha os elementos necessários para um projeto de pesquisa bem-sucedido, incluindo a escolha do tema, a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos e a seleção dos métodos. Ela reforça a importância de um planejamento sólido para garantir a viabilidade do estudo.
Então passamos para “Os Passos da Pesquisa”, capítulo 12, a autora apresenta as etapas práticas da pesquisa, desde a definição do objeto até a análise e interpretação dos dados. Goldenberg fornece um guia geral para que o pesquisador organize e conduza seu trabalho de maneira eficiente e produtiva.
“Entrevistas e Questionários”, décimo terceiro capítulo, Goldenberg discute as principais técnicas de coleta de dados qualitativos. Ela diferencia entrevistas estruturadas, semiestruturadas e abertas, destacando suas aplicações e limitações. A autora também aborda a elaboração de questionários, enfatizando a necessidade de clareza e objetividade nas perguntas.
Mirian fornece dicas práticas para conduzir entrevistas, como criar um ambiente confortável para o entrevistado, manter a neutralidade e garantir a ética durante o processo. Ela ressalta que a interação entre pesquisador e entrevistado é uma oportunidade para acessar significados profundos, o que exige sensibilidade e habilidade por parte do pesquisador.
Neste capítulo, “Pensando como um Cientista” décimo quarto do livro, a autora reflete sobre a importância da postura crítica e reflexiva do pesquisador. Pensar como um cientista, segundo Goldenberg, significa questionar pressupostos, interpretar dados com cuidado e manter uma atitude aberta ao aprendizado.
Ela destaca que a pesquisa científica não é apenas um processo técnico, mas também um exercício intelectual e ético, que exige do pesquisador disciplina, humildade e coragem para enfrentar desafios e revisitar suas próprias ideias. O capítulo busca inspirar o leitor a adotar uma mentalidade investigativa, valorizando a ciência como uma prática de construção coletiva e transformadora.
E para finalizar o décimo quinto capítulo tem o título de “Análise e Relatório Final” onde Mirian Goldenberg aborda a etapa final do processo de pesquisa: a análise dos dados coletados e a elaboração do relatório. A autora enfatiza que essa fase é tão importante quanto a coleta de informações, pois é nela que o pesquisador organiza e interpreta os dados para produzir conhecimento relevante e comunicá-lo de forma clara e acessível.
O livro se encerra reforçando a ideia de que a pesquisa científica é uma arte que combina técnica, criatividade e paixão, deixando ao leitor a responsabilidade de aplicar essas lições em suas próprias trajetórias acadêmicas e profissionais.